top of page

GESTOS

Exposição de Gugie

Curadoria: Juliana Crispe

No gesto potente e genuíno de duas mãos que se tocam e se unem, por entre os dedos que se entrelaçam, uma pequena porta é desenhada semiaberta apresentando um recinto luminoso. Pequena na representação, imensa na metáfora visual que ambienta, a porta sugere nossa sensível admissão dentro do toque terno de duas mãos negras. Punhos, palmas, unhas. Entrelaçadas em tons púrpura, magenta e castanho, as mãos aclimatam a via de possibilidades de apreciação: no interior deste gesto afetuoso encontraremos o análogo, o diverso, mas, sobretudo, encontraremos a nós mesmos, como um ponto inflexível da condição humana. O processo de entrada nos trabalhos de Gugie Cavalcanti é mesmo assim. Por entre repertórios de uma narrativa visual que anseia uma sensibilidade e naturalidade através do corpo negro. Em projeções em muros e telas, a artista visual e grafiteira coloca em evidência memórias e expressões de sua vivência em personagens de um ideal factível de estima. Um trabalho que tem como disparador construtivo a fotografia, mas que logo ganha ampla dimensão, novas paletas de cores e paisagens urbanas, na vontade de ocupação dos espaços, no desejo de acessibilidade de sua proposta. A série GESTOS não poderia ser diferente. Através da portinhola luminosa do afeto na obra Relacionamento, 2020 (Spray e acrílica sobre tela 1.24 x 93 cm) entramos na proposta e por ela adentraremos aos ambientes pictóricos de Gugie pele a pele, em toque, olhar, sensibilidade e identificação. A palavra gesto é entendida como uma forma de expressão do corpo, de movimentos e visagens, no entanto é também sinônimo de procedimento. Gestos como uma atitude na prática, configura esta como a melhor expressão para junção da “estétic(ação)”de Gugie. Uma série de trabalhos desenvolvidos em um momento mundial que demanda do corpo maior veemência. Trabalhos que foram pensados para serem apresentados de maneira virtual, mas que também puderam ser vistos por um percurso afetivo criado pela artista em sua cidade no ano de 2020. Agora a série GESTOS assumirá outro local de afeto e visibilidade, o evento Mulher Artista Resiste, 2ª edição com curadoria de Juliana Crispe. E o resultado de GESTOS dentro deste evento segue sendo o mesmo, o ensejo da potência dos corpos negros refletida em uma poética de vida: proximidade, amabilidade, dignidade, possibilidade.

 

Francine Goudel, historiadora de arte

01.jpg

Relacionamento, 2020

Técnica mista (spray e acrílica sobre tela)

116cm x 85cm

Entrelaçar mãos, um gesto poderoso, é capaz de consolidar um novo mundo. Relacionamento é a construção deste mundo, que pode ser tão único e singular quanto as próprias pessoas que o constroem. É o surgimento de uma terceira coisa a partir de duas, um universo entreaberto que é fruto do contato.

02.jpg

O novo normal, 2020

Técnica mista (spray e acrílica sobre tela)

107cm x 65cm

Num espaço-tempo em que a comunicação visual se dá principalmente pelo recorte dos olhos, essa é a imagem que anseio. Que a presença de um olhar sorridente, feliz e forte de uma mulher negra seja cada vez mais frequente. 

03.jpg

Cangote, 2020

Técnica mista (spray e acrílica sobre tela)

140cm x 123cm

A proximidade, a pele com pele... Esse gesto é, no fundo, um carinho mútuo. Cuidar de alguém que depende tanto de nós é uma relação.

04.jpg

Autocuidado, 2020

Técnica mista (spray e acrílica sobre tela)

114cm x 124cm

Apoiar a si mesmo é autocuidado. Esse gesto implica diálogo, segurança e fortaleza. Apoio é sobre isso. E o mundo grita a necessidade de apoiarmos aos outros e a nós mesmos.

Sobre a artista:

​Fran Favero é artista visual, curadora, professora e pesquisadora. É mestra e graduada em Artes Visuais pela UDESC, com intercâmbio para a UQAM, em Montreal. Como artista e curadora dedica-se a pesquisar as relações de fronteira que permeiam territórios, corpos e memórias, atuando no campo dos multimeios. Entre as principais exposições estão What’s going on in Brazil, Les Rencontres de la Photographie d’Arles, França, 2019; Antípodas Contemporâneas, 13a Bienal Internacional de Curitiba, 2017; Confluências: arte em intercâmbio, Sesc Interlagos/SP, 2017; e as exposições individuais Ninguém consegue segurar o ar, 14a Bienal Internacional de Curitiba, MASC/SC, 2019 e Y/Rembe’y, Museu Victor Meirelles/SC, 2016. Atualmente é professora colaboradora do Departamento de Artes Visuais da UDESC, integrante da equipe do Projeto Armazém – exposições e feiras de múltiplos e publicações de artista e vice-diretora da ONG Observatório Nacional da Cultura (ONC).

05.jpg

O sorriso do canto, 2020

Técnica mista (spray e acrílica sobre tela)

130cm x 96cm

Tão singelo e bonito, esse gesto é simples e quase que involuntário. Um bem-estar tão espontâneo que é como se fosse um “suor da felicidade”. Os pequenos gestos do rosto, na sua maior simplicidade e verdade, declaram o sentimento que passa pela mente, pelo corpo e pelas sensações. 

06.jpg

O beijo, 2020

Técnica mista (spray e acrílica sobre tela)

86cm x 86cm

O momento de intimidade e afinidade que é o beijo de um casal às vezes gera desconforto pra quem olha. Essa obra, ao mesmo tempo que nos impede de ver os rostos, nos permite observar e analisar um gesto que é pura troca de afeto. Ver um beijo também é um disparo de possibilidades no nosso imaginário. 

07.jpg

Pele, 2020

Técnica mista (spray e acrílica sobre tela)

114cm x 124cm

O encontro de ombros e cotovelos é um gesto singelo e frequente para quem caminha lado a lado. Mesmo sem pretensões, o toque carrega intimidade e ele é o gesto mais presente no convívio da população brasileira. Um diálogo de corpos que quase diz “isso é parte de mim também”. 

08.jpg

Pensamentos, 2020

Técnica mista (spray e acrílica sobre tela)

37cm x 30cm

Qual o olhar mais íntimo e próximo que se pode ter de alguém? Estar realmente perto nos permite, às vezes, pensar o que o outro está imaginando ou refletindo, mesmo num momento de descanso. Aqui, não se sabe para onde os meninos estão indo ou voltando e isso é projeção do que pode ser o mundo por trás do descansar. O corpo é o cenário e a paisagem desse imaginário. Um espaço geográfico como lar para outro universo. 

Sobre a artista:

Monique Cavalcanti, Gugie, é grafiteira, artista visual, natural de Brasília/DF (1993).

Atualmente vive e trabalha em Florianópolis/SC.

Como artista multimídia desenvolve sua poética em diferentes formatos: muros, telas, performance e desenho digital.

Propõe com suas criações uma estética relacional, onde o contato e a interação com suas obras se traduzem em uma ativação de sensibilidade coletiva.

Como pessoa negra, busca na arte produzida nas ruas um espaço de diálogo e ocupação representativa, fortalecendo uma visibilidade e sobretudo apostando em uma estética de autoestima.

Desenvolve oficinas e palestras sobre Arte, Graffiti e sua cultura, destacando as incursões já realizadas no Núcleo de Arte e Educação (2014-2017), UDESC (2015), IFSC (2016) e Senac (2016).

É fundadora do Centro de Artes Urbanas – Agenda (2017) em Florianópolis, SC. Possui diversos murais pelas cidades de Brasília, Rio de Janeiro e Florianópolis, nesta última destacando a homenagem a Antonieta de Barros (2019), no centro da cidade, em coautoria com Tuane Ferreira e Valdi. Em 2019 participou da 1ª Bienal Black Brazil Art, com a performance “Obra de Arte”, no Museu Histórico de Santa Catarina, Florianópolis, SC.

No mesmo ano, através da curadoria de Rui Amaral protagonizou o cenário do programa “Encontro com Fátima Bernardes”, na TV Globo. Em setembro de 2020 realizou sua primeira exposição individual que ocorreu on-line e nas ruas de Florianópolis, “Gestos”, foi também seu trabalho de conclusão de curso.

Essa exposição faz parte do evento MULHER ARTISTA RESISTE – 2ª edição

Exposição: GESTOS

Artista: Gugie

Curadoria: Juliana Crispe

Produção Cultural das exposições em Artes Visuais: Lorena Galery

 

Realização: Espaço Cultural Armazém - Coletivo Elza

Coordenação Geral: Gika Voigt, Juliana Crispe e Virgína Vianna

Organização Coletiva e curadoria compartilhada: Grupo de Trabalho MULHER ARTISTA RESISTE

Apoio: Abrasabarca, Coletivo Compor, Gandaia Films, Mulamba, Potlach Editora e Grupo Articulações Poéticas

Produção: Gika Voigt Produz

Vinheta: Gandaia Films (com música da banda Mulamba)

Equipe técnica: Gika Voigt e Marianella Colucci

Equipe de comunicação: Gika Voigt, Juliana Ben, Juliana Crispe, Lorena Galery, Marianella Colucci  e Virgína Vianna

bottom of page